SANTA CLARA DE ASSIS: Vida vivida em função do amor. |
Clara de Assis nasceu Chiara Ofreduccio Favarone, em 1194, da nobre
família assisiense dos Ofreducci, rica, bela, fidalga e prometida como
esposa para pretendente de estirpe semelhante que pudesse aumentar os
bens de seu pai.
Em 1210, encontra-se com Francisco de Assis, jovem, louco e santo que
revoluciona Assis com a vivência do Evangelho e com uma vida de total
desapego, vivendo pobre entre os pobres. Em 1211 está nítida a conversão
de Clara: aos 28 de março de 1212, no Domingo de Ramos, recebe das mãos
do bispo um ramo e lê isto como um sinal da sua decisão e envio. Na
madrugada do dia seguinte, foge da casa da família e vai encontrar-se
com Francisco em Santa Maria dos Anjos.
É o que comemoramos, 1212-2012, a Vocação de Clara de Assis. São 800
anos! De jubileu em jubileu se evidencia a história encarnada de um
carisma. Clara de Assis é a expressão mais cristalina de uma nobre
mulher medieval: reclusa em seu palácio, rica de qualidades, rica de
bens materiais, educada em bons costumes, foco de admiração pelas
virtudes, não passa despercebida pela sua beleza, no aguardo de um bom
dote para um bom casamento. Ela rompe com tudo isto para viver o
Evangelho. Isto é convocação para existir no Amor Sagrado!
Havia em seu tempo mulheres que não eram valorizadas como ela, mas
todas sonhavam o melhor. Clara projeta para a sua vida a perfeição
cristã. Século após século não podemos nos furtar de retomar os modelos
vivos de mulheres corajosas como Joana D’Arc, Catarina de Siena,
Hildegard de Bingen, Brígida da Suécia, Ângela de Foligno, Tereza
D’Ávila. Mulheres que, assim como Clara, nos mostram que uma coisa é
inserir-se na vida das contemporâneas, outra coisa é trilhar a
desafiante senda da perfeição.
Muitas destas mulheres traçaram um caminho: se não há felicidade na
escolha afetiva do prometido esposo, por que não buscar o Amado que
posso escolher na liberdade sagrada do coração? Se não há realização na
preconceituosa sociedade de seu tempo, por que não buscar a
Fraternidade? Mulheres audaciosas e fortes nos mostraram a sublimação da
vida e não fracas escolhas. Não há revolta, mas sim um seguimento
apaixonado. Não há um rompimento com a ilustre tradição familiar, porém a
opção por abraçar uma família espiritual. Assim foi Clara de Assis.
Mulher de sonhos e projetos, renunciou a suntuosos palácios e elegantes
príncipes para refazer os passos de um Pobre de Assis que mostrou o
caminho do Evangelho. Ela nasceu dentro de uma família de cavaleiros,
buscadores de títulos de nobreza e patrimônio, aprendeu com eles a garra
e a ousadia; mas direcionou esta força para uma fortaleza espiritual
que venceu as dificuldades e provações da mais extrema renúncia e
pobreza. Com Francisco ela ajudou, saindo de uma casa, a reconstruir
outra casa: a da civilização cristã.
No silêncio orante do Mosteiro ouviu o Mestre dos mestres e ouviu
Francisco. Criou uma linguagem própria e uma vocação original de amor e
cuidado. Não deu só presença encantada no seguimento do Cristo Pobre;
deu muito mais: sua riqueza pessoal, sua saúde, sua vida. Depois da
morte de Francisco de Assis, por 27 anos, cuidou da herança que ele
deixou e da qual ela também era cooperadora. Viveu 42 anos no Mosteiro
de São Damião, junto com suas irmãs Clarissas, de um modo tão
transparente que há oito séculos sua vida é inspiração em todos os
cantos da história. Fez do seu Mosteiro um canteiro fecundo de novas
sementes contemplativas de Irmãs, oração, penitência, silêncio,
austeridade e acolhimento. Clara é um exemplo para o mundo mesmo
escondida do mundo. Assim como Francisco tornou-se realidade e legenda.
“A lenda cristã, diz Barbara Brígida, não se preocupa com o lado humano
só santo; mas só se interessa pelo ouro finíssimo da divindade que nele
brilha”. Como diz Joaquim Capela, OFM: “Na verdade, Clara de Assis foi a
glória do feminino. Veio ao mundo para embelezar e enriquecer com os
tesouros da sua ternura e bondade (…). Como seu guia e pai, São
Francisco, abriu à humanidade novos caminhos de paz e de ventura. A sua
benigna sombra, tão humana e ao mesmo tempo tão espiritual, paira ainda
hoje na doce terra da Úmbria, toda impregnada da lembrança dos mais
santos mais simpáticos do século XIII e talvez de todos os tempos” ( in
Santa Clara de Assis, Editorial Franciscana , Braga, 1983).
Que alegria celebrar um jubileu desta Santa tão brilhante que ilumina
há séculos nosso mundo e nosso caminho. Santa Clara, rogai por nós!
Por Frei Vitório Mazzuco FilhoTexto publicado no Almanaque Santo Antônio 2012, editado pela Vozes, pág. 140
0 comentários:
Postar um comentário